Fatos&Points entrevista: Roberto Barreto (BaianaSystem)

Entrevista

Roberto Barreto, da banda BaianaSystem

1461659_10201433686976657_1025883619_nDono de um talento invejável. O idealizador da banda BaianaSystem, Roberto Barreto, é o entrevistado do Fatos&Points deste mês. Beto começou a sua carreira como músico de estúdio, gravando jingles e participando de gravações com personalidades da música brasileira, como Ivete Sangalo.

Em 1996, Roberto entra para a Timbalada, onde ficou por quatro anos e gravou cinco discos com a trupe do Candeal. Paralelo a Timbalada, forma a banda Lampirônicos, iniciando um trabalho de pesquisa com ritmos nordestinos mesclados com rock e elementos de música pop e eletrônica. Como produtor, produziu pelo Ministério da Cultura em 2005 o disco “Galvão com a Palavra”, do poeta e letrista Luiz Galvão, que fez parte do grupo “Novos Baianos”.

Em 2006 começa a produzir programas para a rádio Educadora FM, se efetivando como consultor musical e coordenador de programas especiais, produzindo os programas “No Balanço do Reggae”, “Rádio África” e “Radioca”. Todos atualmente no ar.

Com o objetivo de divulgar e explorar novas possibilidades sonoras da Guitarra Baiana, concebe o projeto BaianaSystem, sonoridade que vem experimentando desde 2008 com composições inéditas para a guitarra baiana e em diversos formatos. Em 2010 o BaianaSystem lança o primeiro disco, com participações especiais de BNegão, Gerônimo, Lucas Santtana, Roberto Mendes e Chico Corrêa.

Musicalidade, influências, BaianaSystem, sonhos, entre outros assuntos, Beto que é morador da Barra, conversou com o Fatos&Points.

Fatos&Points: Beto quais foram as suas influências musicais?

Roberto Barreto: Influências musicais… É difícil situar apenas uma. As influências estão em todos os lados e a cada momento uma assume um papel mais importante ou não. A música brasileira fez muito parte da minha formação, exemplos como Gilberto Gil, Caetano Veloso, os grandes artistas brasileiros, os Novos Baianos e aqueles de gerações anteriores. Guitarristas, especificamente os de guitarra baiana como Armandinho, Dodô e Osmar e outros que de alguma forma são ligados à música e tenho como referência: Luis Caldas, Missinho, e uma serie de guitarristas. E o rock’n roll de maneira geral. É isso, música brasileira é universal.

F&P: Que ingredientes uma boa letra precisa par virar uma música de sucesso?

RB: Não tem como você dizer “desse jeito tem”, quem já tentou fazer isso se deu mal! (risos). O fundamental para letra de uma música é ser sincera e espontânea. Quanto mais a pessoa vai pensando e rebuscando demais, ela começa a sair daquela centelha inicial e criativa para uma coisa mais intelectualizada, vamos dizer que passe por uma coisa mais racional. A música comunica mais quando ela é mais direta, com as suas primeiras ideias. Não existe um formato. Uma letra que você acha que é mais besta e parece que não vai funcionar, é a que funciona. E às vezes quando você acha que é uma letra incrível, não faz sucesso.

F&P: Como é viver de música na Bahia?

RB: Isso pode ser expandido para o Brasil. A situação da música na Bahia e no Brasil é muito instável. Ficamos a mercê de momentos. De cinco anos para cá tivemos uma grande mudança, principalmente na parte da produção musical independente e aí, buscamos várias maneiras através dos editais e dos projetos que eram ligados a grandes empresas que acabaram apoiando a circulação. Com isso deu-se uma modificada grande no cenário musical e a própria facilidade hoje em dia de divulgação na Internet, criando outras possibilidades de buscar formatos. O orçamento tanto da União como a Estadual para a cultura geralmente fica em torno de 0,5% ou 1,0 %, é um entendimento muito equivocado do que pode-se gerar não só na musica, a arte de uma maneira geral e outras formas também. Enfim, é bem complicado e bem diferente em relação aos outros países sobre o valor da música e da cultura.

F&P: Como é a sua relação com a guitarra baiana?

RB: A guitarra não foi o meu primeiro instrumento. Comecei tocando o bandolim já com essa afinação da guitarra baiana e com essa referência dos trios elétricos e das músicas de carnaval. Não vejo muito como um instrumento, mas sim como um meio de expressar ideias e sentimentos. Por ser um instrumento criado e concebido aqui na Bahia existe a parte afetiva e junto com isso, acompanha uma estética musical que é única em um repertório. Ela dá um resignificado para guitarra. De como tocar, de como trazer esses outros elementos através dela e por isso um ponto de partida para um projeto musical.

F&P: O que diferencia a BaianaSystem do atual cenário musical baiano?

RB: Se você for ver os assuntos que a banda traz não tem nada de novo como guitarra baiana, sound system, forma de cantar, referências de reggae, música africana. O diferencial deve ser como estes elementos estão arrumados, do jeito que a gente toca isso. A guitarra baiana tocando nesse universo pensado como sound system, o Russo que tem uma maneira muito particular de cantar, a colaboração de Marcelo Sêco com as bases e com esse pensamento de uma produção de música mais pop atual, a parte visual agregada também próxima muito. A Baiana vai além da música, é um projeto audiovisual. Muitas vezes a musica já não comunica mais e aí vem a parte visual para comunicar. Talvez essas pessoas juntas tentando fazer alguma coisa, seja um diferencial, que na verdade não é nenhuma novidade. (risos)

F&P: Qual o diferencial que o público baiano tem em relação ao restante do país?

RB: O público baiano é caloroso.  Tem muito dessa cultura do um show se transformar em uma festa. Isso tem o lado bom e o lado ruim, pois muitas vezes quando é apresentado algo que seja um pouco mais apreciativo e se precisa de um olhar mais apurado na Bahia se perde. Agora quando você se propõe e deixa claro a proposta a resposta é bem mais rápida do que em outros lugares. Aqui a comunicação é muito direta, quando as pessoas não gostam você percebe logo. E também pelo fato das pessoas já conhecerem os elementos musicais que a gente toca, por fazer parte da formação de cada um isso torna mais próximo, mesmo que a pessoa não conheça aquela música, de certa forma ela se identifica com aquilo por ter elementos que são próximos.

F&P: Você é um dos produtores do Radioca, programa de rádio dedicado a explorar musicalidades até então desconhecidas do grande público. Na sua opinião, o baiano tem curiosidade musical?

RB: Acho que tem. Enfim acho que é um misto do que também é essa responsabilidade que os meios de comunicação, acho que no momento em que as pessoas começam a ver as coisas, as pessoas já vão se interessando. Hoje em dia as pessoas tem muito mais possibilidade de buscar informação, notícias, de saber quem é. As coisas circulam independente desses grandes veículos. De maneira geral as pessoas são muito mais curiosas e interessadas em buscar as coisas. O povo sabe o que quer e também quer conhecer o que não sabe. Se a novidade é apresentada de maneira bacana as pessoas tem interesse em conhecer sim.

F&P: Qual o sonho profissional que ainda não realizou?

RB: Tocar banda de Gilberto Gil. Já toquei com Márcia Castro no camarote dele, e tocamos juntos. Mas ficaria realizado tocando como instrumentista dele.

F&P: Como aliar de uma forma dinâmica os recursos eletrônicos e os tradicionais na música de uma forma equilibrada?

RB: É experimentando, com senso critico, ouvindo, também o estar em grupo às vezes você acha que não está bom, mas não isso aqui está legal. É fazendo, experimentando, ouvindo, tendo boas referencias e também um conceito tenta trazer para aquilo, o que você quer passar com aquilo com o eletrônico ate onde ele consegue emocionar.

F&P: O que poderia ser melhorado no bairro que você mora?

RB: Como um todo, tudo! Como toda a cidade alguns bairros mais outros menos. Muitas vezes as pessoas pensam que por ser um bairro nobre por conta disso não precisa de tal coisa. Acho que na verdade é uma consciência mais ampla mesmo de cidadania, da parte de todo mundo. Na Barra mesmo vejo o tempo inteiro as pessoas andando com o cachorro na rua e deixando o cocô pelo chão e fazendo o xixi na rua do mesmo jeito que em qualquer lugar. Não é só uma coisa do poder publico, é uma consciência mesmo de todo mundo e de melhorar. Em relação de infraestrutura de bairros e de cidade acho que Salvador está toda precisando da mesma coisa. Todo mundo tem problema de buraco, de segurança. Salvador está toda precisando de um check-up geral.

F&P: Como vê Salvador no futuro?

RB: Acho que rolou uma coisa até forte assim, no estado de degradação em que a cidade ficou, rolou um pouco desse sentimento de recuperar a cidade, isso foi uma coisa bacana de ver assim. Acho que isso pode permanecer no futuro, mas depende muito, dos governantes, da responsabilidade que cada um vai ter.

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